Movimento Maker: faça você mesmo
20 de fevereiro de 2020PIX – Pagamento Instantâneo Brasileiro
28 de fevereiro de 2020Você é o produto
É de graça? Então você é o produto que sustenta os buscadores da internet, servidores de e-mail, armazenamento online de arquivos, backups de fotos, mídias sociais, comunicadores instantâneos, aplicativos diversos e muito mais. Mas calma! Não quer dizer que enquanto individuo você estará sendo “negociado”, mas sim, seus dados e em especial o seu comportamento de navegação é que valem bilhões de dólares.
É público e inquestionável que nos últimos anos o faturamento do e-commerce em todo o mundo cresce vertiginosamente. Entre outros fatores, deve-se destacar o maciço investimento que estas lojas fazem na divulgação de seus produtos e serviços na rede de computadores, em especial, nas páginas dos principais serviços gratuitos e também por meio de anúncios pagos nos buscadores. Deste modo, poderíamos concluir que são estes anúncios que sustentam toda a internet. Mas na verdade estes bilhões de dólares são apenas a ponta do iceberg.
Nos últimos anos há um outro mercado digital que cresce ainda mais rápido do que o de anúncios, o de dados pessoais. Isso mesmo, os dados digitais que todos nós geramos cada vez que ligamos um computador, utilizamos o cartão de crédito, e até mesmo quando andamos pelas ruas. Estima-se que as nossas “pegadas digitais” em 2019 devam ter gerado mais de U$200 bilhões em receitas para empresas especializadas.
Neste mercado em que você é o produto, vale de tudo. Algumas empresas se esforçam em tentar descobrir o que você está querendo e então te entregar uma propaganda direcionada. Outras irão te convencer a comprar o que não quer. Enquanto as mais valiosas deste mercado, já sabem mais sobre nós do que nós mesmos.
Mas por que saber tanto?
Até no início dos anos 2000 as empresas promoviam seus produtos por meio dos “canais tradicionais” como a TV, rádio, revistas, entre outros. Ou seja, divulgava-se de forma maciça para uma grande multidão com a certeza que um ínfimo percentual destes viriam a comprar seu produto e trariam o lucro almejado.”Naquele tempo” a comunicação era de poucos para muitos. Isso até o surgimento da internet.
Acontece que esta certeza que perdurou por séculos se diluiu tão rapidamente que foram poucos os que conseguiram perceber e muito menos ainda os que conseguiram se adaptar a tempo. Tanto é verdade, que muitos grupos de mídias, sejam eles editoras ou canais de TV por exemplo, ou já fecharam ou passam por sérias dificuldades financeiras. São como “mamutes” que durante séculos dominaram impiedosamente tudo, e sem se darem conta, pequenos “insetos” muito mais rápidos e adaptáveis passaram a consumir todo o seu alimento e de uma hora para outra os mataram de fome.
Agora são as startups, blogueiros, digital influencers, etc, que dominam a atenção de boa tarde dos bilhões de consumidores conectados à internet. São os muitos produzindo para poucos. É a comunicação maciça sendo engolida pelo marketing de nicho.
E como essa “mágica” acontece?
Não apenas uma mudança cultural, mas também uma mudança de era, novas tecnologias, computadores mais velozes, inteligência artificial, e muito mais, permitiu a criação e expansão de novas profissões como as relacionadas a Big Data, Data Science, dentre outras que se destinam a coletar, segmentar, analisar e “nichar” cada vez mais os consumidores para então, vender estas informações para que os anunciantes possam otimizar sua publicidade. Além de toda a tecnologia envolvida, também há pessoas por trás destas máquinas traçando estratégias para coletar mais dados, e por fim entendê-los. São desde programadores, matemáticos, estatísticos, antropólogos, linguistas, historiadores, e muito mais.
Ou seja, você é o produto mais valioso! Pois é quem tem o poder (ou acha que tem) para decidir o que comprar, e “eles” farão de tudo para chegar ao seu bolso e ao seu coração.
Como nos tornamos o produto?
Com é de conhecimento geral não existe nada de graça, até o relógio precisa de “corda” para trabalhar. Além do que, também não existe empresa que sobreviva só de boas intenções, então, seria lógico concluir que o de “graça” está custando muito mais do que se possa imaginar. Vejam o caso dos buscadores online e das plataformas de mídias sociais que se dizem
“gratuitos e que permanecerão para sempre assim”, mas ao mesmo tempo apresentam lucros na casa dos bilhões de dólares. Como isso é possível?
Simples, como descrevemos acima boa parte da receita vem de publicidade dirigida, e outra parte da venda de dados do comportamento de cada usuário. Quem já impulsionou uma postagem em um deste aplicativos sabe que é possível segmentar por sexo, idade, cidade, bairro, interesses pessoais, dentre muitas outras variáveis. E é esta segmentação precisa que paga as contas destes grandes conglomerados digitais.
Mas afinal, isso é tão ruim assim?
Sim, e não. Depende. Quando utilizado para propagandas pode ser bastante importuno, mas não tende a fazer mal aparente. Quando utilizado para tentar manipular um individuo ou grupo de pessoas, ai a conversa já é outra. Contudo, este mercado ainda atravessa uma linha muito tênue no que tange a ética e limites. Só com o que existe hoje, por exemplo, já seria possível seu plano de saúde ou de seguros traçar seu perfil e até mesmo estimar qual a chance deles precisarem “gastar” com você, e o quanto e quando. É assustador né?!
E como se proteger?
Infelizmente não há nada que possa ser feito para mudar esta condição, apenas tentar anonimizar seus dados e aumentar sua privacidade. Porém, no que tange a privacidade, infelizmente muitos usuários das mídias sociais não parecem estar muito preocupados com isso, pois postam praticamente toda sua rotina de vida. Isso incluí: onde estão, com quem se encontram, o que estão fazendo e até mesmo o que estão almoçando. Estes ainda não se deram conta do risco à sua própria segurança quando agem deste modo, pois não estão apenas abrindo sua intimidade para o mundo, estão dando munição para malfeitores.
Se por um lado há empresas especializadas em “nichar” os consumidores com a intenção de melhorar as vendas, há outras com propósitos não tão ortodoxos assim. Um exemplo recente foi o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica que se utilizou de dados obtidos no Facebook para “tentar manipular” os eleitores de diversos países como retratado no filme Privacidade Hackeada. Neste caso específico, estima-se que dados pessoais de até 87 milhões de pessoas (a maioria nos Estados Unidos) foram coletadas e utilizadas para direcionar publicidade durante algumas campanhas políticas ao redor do mundo. Acredita-se que tanto a campanha do “Brexit” quanto a última eleição americana de 2016 tenham sido “manipuladas”, dentre outras.
Iniciativas Governamentais
Embora negligenciado pela maioria absoluta dos internautas, o uso dos dados pessoais tem sido motivo de discussões e regulamentação em todo o planeta. Uma regulamentação referência é o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) da União Européia que foi criado em 2018 e se propõe a regulamentar a privacidade e proteção de dados dos indivíduos residentes no Espaço Econômico Europeu.
LGPD – Brasil
Da mesma forma que países Europeus, o Brasil também se encontra na vanguarda quando a discussão é a proteção de dados. Em 2018 foi criada a Lei 13.709/2018 que dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, estejam eles em meios digitais ou não, sejam manipulados por pessoas físicas ou jurídicas, entidades públicas ou privadas.
O artigo 2º da lei trata:
Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos:
I – o respeito à privacidade;
II – a autodeterminação informativa;
III – a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;
IV – a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V – o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI – a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VII – os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais.
Cuidados Pessoais
Por fim, esta é uma batalha inglória que nunca terá fim. Se de um lado ações governamentais tentam proteger os cidadãos, de outro as empresas de Big Data continuarão coletando e utilizando nossas pegadas digitais com propósitos muitas vezes questionáveis. Pois lembre-se, você é o produto que todos desejam.
Já que é impossível ser invisível aos olhos dos que tudo sabem, pelo menos podemos tentar ser anônimos. Os dados continuarão a ser coletados e analisados, porém haverá uma dificuldade a mais para impactar indivíduos em específico.
Em seguida segue algumas dicas de proteção:
Se proteja:
- Sempre que possível navegue na internet utilizando a “janela anônima”;
- Passe longe de enquetes e “testes online” se não conhecer ou confiar no dono do perfil;
- Nunca compartilhe dados pessoais e familiares nas redes sociais e por telefone com desconhecidos;
- Não caia na onda de baixar aplicativos que fazem coisas engraçadas, como te tornar mais “velho”. Geralmente na política de privacidade (que ninguém lê), tem um item descrevendo quais informações pessoais eles irão coletar em troca de ser gratuíto;
- Se possível utilize uma VPN quando conectado em redes públicas. De preferência para as pagas;
- Tente ler a política de privacidade antes de se inscrever em um serviço online e também offline;
- Desative as opções que permitem sites e serviços compartilhar seus dados com terceiros;
- Evite expor sua vida pessoal na rede;
- Reveja e ajuste as opções de privacidade nos APPs e sites que você utiliza;
Nem tudo é ruim
Por fim, é importante frisar que você é o produto sim mas que nem tudo é ruim, e a coleta de dados consentida na maioria das vezes podem trazer grandes benefícios. Um exemplo são as pesquisas na internet que devolvem resultados mais assertivos, buscas por serviços de alimentação que retornam indicações mais alinhadas com nossas preferências, coleta de perfis de navegação e usabilidade de aplicativos, softwares e sites também ajuda para melhorar a performance destes e a experiência do usuário, etc.
Outro serviço que também é alvo de frequentes críticas é a coleta de dados de localização (por meio do GPS do celular ou antes repetidoras), pois enquanto alguns veem como invasão de privacidade, outros como um forte aliado na questão segurança familiar.
Por fim, já que você é o produto, então pelo menos torne-se muito valioso!
Veja Mais: