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23 de setembro de 2020Já imaginou um mundo onde as pessoas são condenadas pelo tribunal da internet antes de serem julgadas? Mesmo sem confirmações das circunstâncias em que este suposto delito ocorreu? E onde até mesmo pessoas mortas há décadas passam de heróis nacionais à transgressores? Esse mundo existe e é o nosso. E o que está ocorrendo é o alastramento da cultura do cancelamento, que exclui da sociedade virtual / presencial determinadas pessoas. Para eles, pode significar inclusive, o fim de uma carreira.
É sabido que tudo que registramos na internet ficará na rede para sempre, e também que somos responsáveis pelos nossos atos. E desnecessário ainda, destacar que muitas pessoas acabam cometendo crimes e se escondendo (ou não) atrás de uma tela. Racismo, intolerância, pedofilia, assédio e muito mais devem ser passíveis de investigação e se assim julgado, os condenados devem pagar pelos seus erros.
Cultura do Cancelamento
Acontece que a intolerância que tomou conta da internet tem condenado inclusive pessoas como Raul Seixas, Winston Churchill, Monteiro Lobato, entre outros já mortos há décadas. É fato que Churchuill tinha um perfil bastante questionável para a nossa época, porém, ele nasceu e viveu no século passado. Tal qual Monteiro Lobato. Analisar fatos passados com os filtros da modernidade certamente nos farão não gostar do que vemos, mas essa é a história. Não tem como mudar o passado, apenas criar novas narrativas sobre ele, o que é muito mais perigoso.
Mas não só os falecidos têm sofrido com a cultura do cancelamento, se é que ainda tem como atingi-los. Sobretudo, todos nós estamos de alguma forma sujeitos ao escrutínio virtual. E o pior, não necessariamente por algo errado ou ilegal que possamos cometer, e sim, muitas vezes pelo simples fato de pensarmos de forma contrária a determinados grupos ideológicos.
Algumas personalidades acabam sofrendo sobremaneira, especialmente se dependem da internet para trabalhar e angariar sua renda familiar. Atores, artistas, cantores são os principais alvos. Basta postar uma foto, uma frase infeliz, ou até mesmo dar um “like” naquele perfil que os intolerantes julgam inadequado, para que estejam sujeitos ao cancelamento. Sabe aquela piada que você escreveu no Twitter ainda em 2006 quando a plataforma foi lançada? Pois é, hoje embora totalmente fora de contexto pode ser a tua perdição.
Consequências do cancelamento
Para algumas pessoas serem “canceladas” na internet pode se tornar apenas uma chatice e terem que suportar ofensas e ameaças virtuais. Já para outros, pode significar o final de carreira e até mesmo da sua fonte de renda.
Algumas personalidades acabaram optando pela “carreira solo” e fazem da internet o seu palco, sua sala de aula, seu canal de divulgação de produtos, serviços, opiniões e análises segundo sua percepção do mundo. Estes produtores de conteúdo geralmente gozam de uma certa independência editorial. Seja por meio do youtube, seu próprio blog ou por outras mídias sociais, são remunerados pelas propagandas neles divulgados a cada nova visualização.
A cultura do cancelamento também chegou até eles. Diuturnamente um perfil anônimo na internet tem forçado grandes marcas a suspenderem suas publicidades nestes sites ou canais, assim minguando financeiramente estes produtores.
Assim, antes de apoiar o cancelamento proposto pelos tribunais da internet, procure a entender o contexto e qual foi o “real crime” do acusado. Se for de cunho legal, não há dúvidas e precisa realmente ser legalmente penalizado. Se for apenas contradição de ideologia, cuidado: Você poderá estar apoiando uma nova forma de censura.
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Texto originalmente publicado na Revista Única (versão impressa)