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31 de outubro de 2019Um mundo em que avaliam tudo e todos
22 de novembro de 2019
Frequentemente presenciamos discussões acaloradas acerca da regulamentação de serviços por aplicativos, sejam eles de transporte, entregas, hospedagens, dentre outros. Por vezes estas manifestações ultrapassam o limite da razão e do bom senso e acabam inclusive em agressões físicas e até tragédias. Acontece em grandes capitais, em cidades do Norte ao Sul, de Leste a Oeste, incluindo nosso estado e também a Cidade Azul.
Regionalmente o serviço que mais é discutido é o de transporte de passageiros, de um lado tem-se a categoria dos taxistas que se dizem injustiçados pois perderam muito mercado e estão tendo dificuldades de competir neste novo cenário, no outro extremo, os motoristas por aplicativos que buscam a segurança para trabalhar legalmente sem riscos. E no meio disso tudo, fica a população que espera ter acesso a serviços de qualidade e com valores justos.
Já acompanhei muitas discussões, principalmente durante entrevistas em rádios, em que o principal motivo apontado para escolha de um serviço em detrimento a outro era o valor cobrado, porém, este é apenas um dos pontos que são considerados. Muito além do quanto irá ser pago por uma “corrida”, o passageiro espera encontrar um veículo em boas condições, limpo e sem cheiro de “cigarro”, de preferência que tenha ar condicionado, um motorista cordial e educado, e o mais importante: a facilidade de usar o serviço.
No que tange a facilidade basta comparar como era no passado e como é hoje. Há alguns anos era necessário fazer uma ligação para uma “central” ou uma “cooperativa” e solicitar um carro (obrigatoriamente precisava conhecer os números, imagine como isso era complicado quando estava viajando e não possuía estas informações), explicar onde você estava, encontrar pontos de referências, e depois “torcer” para seu veículo chegar sabe-se lá quanto tempo depois. Hoje com dois cliques você chama seu carro e instantaneamente sabe quando chegará, quanto custará e o tempo do trajeto até o destino final.
Há ainda um outro ganho neste processo todo que na maioria das vezes nem mesmo é citado, a avaliação instantânea que ocorre mutuamente. Tanto o motorista quanto o passageiro pontuam um ao outro de forma que, ambos terão ao longo do tempo uma “nota de reputação”, e os que não respeitam as boas normas sociais serão penalizados na sua avaliação de modo que poderão inclusive serem expulsos da plataforma.
Se faz necessário reforçar que estas discussões recentes vão muito além de uma simples marcação territorial entre taxistas e motoristas de Uber, por exemplo, mas sim, é a ruptura de um processo de poder antes concentrado na mão de poucos grupos corporativistas que dominavam a distribuição de serviços, produtos e informações, de acordo com suas vontades, e claro, definindo o quando seria cobrado uma vez que não haveria concorrências de verdade.
Nesta nova conjuntura, o que mais assusta estas classes e o fato é o fato do consumidor passar a ter o real “direito” de decidir o que e de quem comprar, e em muitos casos até mesmo definindo o quanto está disposto a pagar. Sem contar ainda, que inevitavelmente acabou sendo “eliminado” uma serie de atravessadores e distribuidores, pois tornou-se possível colocar frente a frente o produtor e o consumidor final.
E antes que me acusem de ser um defensor de motoristas por aplicativos e contrário aos meios de transportes tradicionais, quero deixar claro que apenas estou tentando retratar superficialmente o que está ocorrendo. Pois, se não é mais necessário uma cooperativa de transporte, uma vez que o passageiro contrata diretamente o motorista, fenômeno parecido também está ocorrendo em outros setores como: hotéis que estão perdendo clientes que optam em contratar um quarto diretamente com o proprietário de imóveis residenciais; agências de viagem que se viram obrigadas a se especializar mais em entregar experiências, já que a venda de passagens está a um click nos smartphones; bem como no comércio, na educação, na área de alimentação, etc. Estes são apenas alguns exemplos dos muitos existentes, e dos tantos outros que ainda serão criados.
Todos têm o direito de não gostar ou de não concordar, mas não podem negar o que está acontecendo. Uma evidência clara deste “novo mundo” é que inclusive um novo termo acabou sendo criado, a “uberização”, cujo conceito refere-se a um modelo de negócio baseados em como um produto passa a ser ofertado através de um serviço.
Muito ainda veremos de manifestações e pressões políticas tentando barrar as novas tecnologias e suas vantagens, e certamente algumas “evoluções” até serão proibidas por um tempo ou mesmo impedidas de funcionar, mas outras virão e vencerão, pois foi-se a época que o consumidor era apenas um agende passivo e “Pagador de contas”!, tudo isso graças a criação da internet e popularização dos smartphones.
Quem não entender isso, é bom ir ligando seu “cronometro regressivo” pois seu “tempo esta chegando ao fim”!
Publicado originalmente no Portal Notisul em 11NOV19 no endereço:
https://notisul.com.br/tecnologia-e-educacao-fernando-darci-pitt/153477/a-inevitavel-uberizacao-dos-servicos